sexta-feira, 23 de abril de 2010

Videos educacionais ajudam a educar crianças pequenas?



Um estudo publicado no site da revista Mente & Cérebro deste mês trouxe uma polêmica, será que os vídeos educacionais podem ajudar a educar crianças pequenas?. Hoje existem muitos DVDs que são vendidos para o público infantil com a promessa de melhorar o aprendizado da linguagem.Para os pesquisadores da Universidade da Califórnia em Riverside, a exposição precoce a certos estímulos sempre leva a um incremento da capacidade intelectual.

Veja o trecho do estudo:

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores realizaram estudo do qual participaram 96 crianças. Elas assistiram a vídeos educativos durante seis semanas e depois passaram por testes para avaliar a aquisição e memorização de palavras, com ênfase naquelas destacadas nos programas. De forma geral, os resultados não mostraram melhora no vocabulário. Os cientistas observaram ainda que as crianças com menos de 1 ano expostas a esse tipo de programa obtiveram resultados piores nos testes.


Fonte: Mente & Cérebro

Boas Notícias sobre o Piso Salarial do Psicólogo

Uma ótima notícia para os psicólogos começou a veicular semana passada sobre o projeto de Lei 5440/09, do deputado Mauro Nazif (PSB-RO), (ver link) que institui o piso nacional para os psicólogos, no valor de R$ 4.650, valor que será reajustado após a sanção da Lei.
Para Nazif, os psicólogos sofrem com uma carga horária elevada e baixos salários, por isso é necessário um novo piso. O projeto será analisado ainda pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Fonte: Redpsi.com.br

quinta-feira, 11 de março de 2010

CONHEÇA AS DEZ RAZÕES DAS ENTIDADES DE PSICOLOGIA PARA SEREM CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL


1. A adolescência é uma das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um período de grandes transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa. O desafio da sociedade é educar seus jovens, permitindo um desenvolvimento adequado tanto do ponto de vista emocional e social quanto físico;

2. É urgente garantir o tempo social de infância e juventude, com escola de qualidade, visando condições aos jovens para o exercício e vivência de cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais para a constituição da própria sociedade;

3. A adolescência é momento de passagem da infância para a vida adulta. A inserção do jovem no mundo adulto prevê, em nossa sociedade, ações que assegurem este ingresso, de modo a oferecer – lhe as condições sociais e legais, bem como as capacidades educacionais e emocionais necessárias. É preciso garantir essas condições para todos os adolescentes;

4. A adolescência é momento importante na construção de um projeto de vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para esta fase deve ser guiada pela perspectiva de orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação e, sim, pela orientação escolar e profissional ao longo da vida no sistema de educação e trabalho;
5. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propõe responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de medidas socioeducativas. O ECA não propõe impunidade. É adequado, do ponto de vista da Psicologia, uma sociedade buscar corrigir a conduta dos seus cidadãos a partir de uma perspectiva educacional, principalmente em se tratando de adolescentes;

6. O critério de fixação da maioridade penal é social, cultural e político, sendo expressão da forma como uma sociedade lida com os conflitos e questões que caracterizam a juventude; implica a eleição de uma lógica que pode ser repressiva ou educativa. Os psicólogos sabem que a repressão não é uma forma adequada de conduta para a constituição de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal reduz a igualdade social e não a violência - ameaça, não previne, e punição não corrige;

7. As decisões da sociedade, em todos os âmbitos, não devem jamais desviar a atenção, daqueles que nela vivem, das causas reais de seus problemas. Uma das causas da violência está na imensa desigualdade social e, conseqüentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns cidadãos. O debate sobre a redução da maioridade penal é um recorte dos problemas sociais brasileiros que reduz e simplifica a questão;

8. A violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição, antes pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a produzem. Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores e mantenedores de violência tem como um de seus efeitos principais aumentar a violência;
9. Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa. É encarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro destino ou possibilidade;
10. Reduzir a maioridade penal isenta o Estado do compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para com a juventude. Nossa posição é de reforço a políticas públicas que tenham uma adolescência sadia como meta.


Fonte: ABRAPSO - Associação Brasileira de Psicologia Social

Foucault no século 21


Vinte e cinco anos após sua morte, as ideias do filósofo francês continuam no cerne das pesquisas em ciências humanas: da psicologia ao direito; da filosofia à educação

Poucos pensadores exerceram maior impacto sobre as ciências humanas que Michel Foucault. Vinte e cinco anos após sua morte, ocorrida no dia 25 de junho de 1984, o caráter generoso de suas ideias inovadoras se manifesta na renovação do campo de investigação da psicologia, da psiquiatria, da história, do direito, da arquitetura, da filosofia, da sociologia e da educação, entre outras disciplinas. Dos anos 1960 ao começo da década de 1980, Foucault formulou conceitos e abordagens teóricas que descortinaram novos objetos e demoliram velhas questões ao demonstrar que a história não é o palco pelo qual desfilam os mesmos problemas singulares de sempre. Como poucos dentre seus contemporâneos, Foucault soube apropriar-se do projeto nietzscheano de destruição e transvaloração dos valores vigentes, ensinando-nos a desconfiar da herança metafísica incrustada em conceitos supra-históricos como 'o' Homem, 'a' verdade, 'a' natureza, 'o' poder, 'a' razão, 'o' sexo, 'o' corpo, etc.

As marcas de sua genialidade intelectual já se anunciavam em sua primeira grande obra, A história da loucura na idade clássica, publicada em 1961. Abria-se ali o espaço de pesquisas que Foucault denominou como uma arqueologia das ciências humanas, e que culminaria em obras fundamentais como As palavras e as coisas, O nascimento da clínica e Arqueologia do saber. Nelas, o autor empreendeu uma crítica não epistemológica da razão, isto é, um questionamento que não visava avaliar a evolução histórica da cientificidade das ciências, mas trazer à luz os pressupostos profundos que permitiram à modernidade entronizar a razão como critério absoluto a partir do qual se poderia determinar, por exemplo, o ser da loucura. Assim, ao elaborar sua peculiar história da loucura, Foucault abriu mão da ideia de que a relação histórica entre razão e loucura se dera a partir da contínua e gradual conquista das luzes sobre as sombras, roteiro em que a psiquiatria representava a conquista da suposta verdade da loucura enquanto doença mental e a consequente libertação do louco em relação a velhos preconceitos.

Silenciamento da desrazãoPor outro lado, e de maneira mais ambiciosa, Foucault se perguntou como foi que se definiu a moderna decisão que apartou a razão de seu outro, contando-nos uma história na qual o saber psiquiátrico era compreendido como a etapa derradeira de um longo processo de silenciamento da desrazão, cujos primeiros sintomas já se deixariam evidenciar em acontecimentos do século 17 como a instituição do Hospital Geral, o grande internamento e a metafísica de Descartes. Segundo Foucault, Descartes teria excluído a loucura do processo da dúvida metódica que leva à descoberta do cogito, explicitando assim a decisão fundamental da modernidade em opor a ordem da razão à desordem da desrazão: se duvido, penso, e se penso não posso ser louco.

Em As palavras e as coisas, Foucault formulou o polêmico conceito de épistémè. Aludia-se com ele a uma ordem ou princípio de ordenação dos saberes anterior a qualquer enunciado visando o conhecimento, de modo que a épistémè epistémé seria a instância arqueológica profunda que tornaria qualquer enunciado possível: tratava-se de nomear o solo fundamental que conferiria legitimidade e positividade ao saber de cada época. Em outras palavras, Foucault não se propunha a fazer uma história das ciências ou uma história das ideias, mas procurava descrever a configuração e as transformações históricas das diferentes épistémès, as quais marcariam diferentes possibilidades de pensamento e conhecimento, sem qualquer linearidade progressiva na passagem de uma épistémè a outra. Subjacente a toda cultura e, portanto, a toda forma de conhecimento, Foucault detectava a existência de uma ordem, de um espaço de identidades, de similitudes e de analogias por meio das quais classificamos e distribuímos os objetos do conhecimento. A obra era polêmica e despertou grande interesse e muitas críticas, pois Foucault foi acusado de hipostasiar a história e a práxis humana por detrás da ação silenciosa de estruturas anônimas.

Saber-poder-verdadeEm 1970, Foucault foi eleito para o prestigioso Collège de France e sua aula inaugural, A ordem do discurso, sinalizou uma virada em suas reflexões. Por certo, a política não estivera ausente das pesquisas arqueológicas, como testemunha seu acirrado embate com Sartre, a fenomenologia francesa e com os marxistas. Entretanto, agora Foucault não mais se contentava em avaliar as condições arqueológicas de ordenação dos enunciados, mas começava a interrogar os sistemas de exclusão e rarefação que envolvem toda enunciação discursiva. Sob forte inspiração nietzscheana, Foucault passava a questionar certas figuras histórico-políticas da vontade de verdade e da vontade de saber que permearam a história ocidental, perguntando-se, então, quem pode dizer algo e sob quais condições institucionais. Iniciava-se assim o período de suas investigações genealógicas, centradas no questionamento específico das relações intrínsecas entre saber-poder-verdade. Foucault insistirá em que não há verdade fora do poder ou sem o poder, pois toda verdade gera efeitos de poder e todo poder se ampara e se justifica em saberes considerados verdadeiros.

Nas pesquisas genealógicas dos anos 1970, Foucault analisou a constituição histórica das relações de poder em seu caráter produtivo e eficaz em obras fundamentais como Vigiar e punir e o volume I da História da sexualidade. Nelas, ele questionou a concepção filosófica moderna do sujeito constituinte e substituiu-a pela concepção de que o sujeito é constituído historicamente, simultaneamente à constituição das práticas e dos discursos que se multiplicaram nas diversas instituições sociais nascentes a partir do século 17, tais como a escola, o hospital, o quartel, as fábricas.

Quanto à análise das relações de poder, observava-se uma dupla inovação: por um lado, Foucault desviava os olhos da relação jurídica entre o Estado e o cidadão para lançar seu olhar microscópico sobre as múltiplas relações de poder presentes nas instituições sociais nas quais se forjou o indivíduo disciplinado e normalizado. Por outro lado, fugindo à tópica do poder repressor, Foucault descobriu que os micro-poderes disciplinares exerciam seus efeitos positivos e discretos sobre o corpo dos indivíduos visando transformá-lo num corpo dócil e útil, segundo a conhecida fórmula de Vigiar e punir. Com as pesquisas genealógicas, Foucault se propôs a investigar como se produziu o indivíduo moderno, o sujeito sujeitado e disciplinado em seus gestos, comportamentos, discursos, etc.

BiopolíticaSe o ponto de partida da genealogia foucaultiana do poder foi a descoberta dos micro-poderes disciplinares que visavam à administração do corpo individual, seu ponto de chegada foi a descoberta do biopoder e da biopolítica. Tratava-se de uma nova forma de exercício do poder soberano, nascente na passagem do século 18 para o 19, cujo alvo não era mais a produção do indivíduo dócil e útil, mas a gestão calculada da vida da população de um determinado corpo social. Foucault chegou à descoberta do biopoder ao analisar o que chamou, em História da sexualidade, de dispositivo da sexualidade, isto é, a sexualidade como o produto de discursos científicos e morais pautados pela vontade de saber, pelo ideal de normalidade e pela obsessão em esconjurar e escrutinar a anormalidade. Foucault descobriu que o sexo não era apenas a matriz privilegiada para o exercício dos poderes disciplinares, pois também constituía o foco por excelência para o gerenciamento planificado de fenômenos populacionais como as taxas de nascimento e mortalidade, as condições sanitárias das cidades, os índices de contaminação, etc.

A partir do século 19, interessava ao novo poder estatal estabelecer políticas higienistas por meio das quais se poderia sanear o corpo da população, depurando-o de suas infecções internas. Novamente se evidencia a genialidade de Foucault: ali onde nossa consciência iluminista nos levaria a louvar o caráter humanitário de intervenções políticas visando incentivar, proteger, estimular e administrar as condições vitais da população, Foucault descobriu o elo fatal entre higienismo, eugenia, racismo e genocídio. Em uma palavra, ele compreendeu que a partir do momento em que a vida passou a se constituir no elemento político por excelência, tal cuidado político da vida trouxe consigo a exigência contínua e crescente da morte em massa, pois é apenas no contraponto da violência depuradora que se podem garantir mais e melhores meios de sobrevivência a uma dada população. Eis, portanto, o motivo pelo qual o século 20 pôde testemunhar o advento do nazismo e do stalinismo, para não mencionar os inúmeros casos em que democracias liberais valeram-se do racismo e do extermínio para lidar com suas 'enfermidades' e 'patologias' sociais.

O conceito de biopolítica é um dos principais legados teóricos de Foucault, tendo sido retomado e revisado pela reflexão de Giorgio Agamben ( leia artigo neste dossiê), Roberto Esposito, François Ewald, Michel Sennelart, Michael Hardt e Antonio Negri, dentre outros. Com ele, Foucault não apenas nos ofereceu uma ferramenta para pensar os fenômenos extremos do nazismo e do stalinismo, como também nos concedeu um importante instrumento para pensar as novas formas biopolíticas de controle neoliberal de populações. Em Nascimento da biopolítica, curso de 1979, Foucault já indicava que o mercado competitivo tornar-se-ia a instância da produção de uma nova figura subjetiva, aquela que procura responder da melhor maneira possível às exigências e demandas variadas do próprio mercado econômico, tornando-se, para tanto, um empreendedor de si mesmo. Com muita perspicácia, Foucault compreendeu que o mercado das sociedades empresariais seria o lugar privilegiado ao qual nos reportaríamos a fim de nos tornarmos agentes econômicos competitivos. A profecia parece ter se cumprido, pois cada vez mais tornamo-nos presas voluntárias de processos de individuação e subjetivação controlados flexivelmente pelo mercado e seus ideais normativos.

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Criança Birrenta e os limites na educação infantil

Nas últimas duas semanas me deparei com um fato novo em minha vida: meu pequeno princípe está aprendendo a pontuar suas vontades, digamos, de uma forma um tanto efusiva... Birra mesmo! Quando isso acontece, começo de imediato a me policiar e tento colocar em prática o que aprendo na acadêmia; mas confesso que é uma tarefa árdua, principalmente pelo fato de que não estou lidando com uma criança qualquer, mas com meu próprio filho. E tudo o que menos quero é fazer jus ao ditado: "Casa de ferreiro, espeto de pau!".

Hoje reservei parte do meu tempo para pesquisar sobre o assunto e encontrei um artigo interessante, um pouco extenso, mas muito proveitoso que posto a seguir. Nele você verá que com uma boa dose de amor e tolerância, somos capazes de superar as fases em que a criança busca se auto-afirmar e que muitas vezes tiram os adultos do sério!
Um Breve Histórico

Antigamente, ninguém sequer discutia o assunto. Criança não sabia e, portanto, precisava aprender. Cabia a nós, adultos, o compromisso de ensinar. Quando o filho fazia algo errado, respondia mal ao vovô, agredia um coleguinha de escola ou manifestava-se contrário à realização do tema de casa, os pais não tinham dúvidas: agiam, corrigiam, praticavam sanções disciplinares, aplicavam os chamados “castigos” e até batiam. Tudo em nome da boa educação das crianças. Naquela época, ter um filho indisciplinado era uma coisa vergonhosa, inadmissível para qualquer família.

Com as mudanças ocorridas durante o século XX, tanto no campo das relações humanas como no campo da educação, as pessoas foram aprendendo a respeitar as crianças, entendendo que elas têm gostos, aptidões próprias, personalidades e até indisposições passageiras – exatamente como nós, adultos. Com isso, sem dúvida, muita coisa melhorou para as crianças: o relacionamento entre pais e filhos ganhou mais autenticidade, menos autoritarismo; o poder absoluto dos pais sobre os filhos foi substituído por uma relação mais democrática.

Nestas últimas duas décadas, porém, estamos assistindo a um grande fenômeno: as crianças têm tido mais autoridade que seus pais, apesar de ainda dependerem deles biopsicossocialmente. As pessoas em nada mudaram geneticamente, mas os padrões comportamentais familiares sofreram uma grande desorganização: os bebês têm dificuldades para dormir sozinhos, as crianças exageram nas birras com seus pais, os filhos sofrem de obesidade e alguns já têm colesterol alto por só comerem o que desejam, crianças exigem telefones celulares cujo uso nem se justifica, as dificuldades de aprendizagem cresceram vertiginosamente e a convivência parental se reduziu a pouco mais de cinquenta minutos diários na maioria dos lares. Parece o fim do mundo? Parece. Mas, felizmente, não é.
Já dizia Aristóteles, um filósofo que viveu muito antes de Cristo: “A justiça está no meio-termo.” Ou seja, o que ocorreu foi que, no afã de atender aos reclamos da moderna pedagogia e da psicologia, os pais perderam um pouquinho o rumo e, sem querer, exageraram na dose. Quiseram tanto acertar que acabaram errando. Porém, essa situação ainda tem conserto: algumas regras básicas são suficientes para colocar a casa em ordem e a vida em paz !
Os “Limites Infantis” não foram escolhidos como tema do nosso segundo encontro por acaso. Nosso objetivo é explicar à comunidade escolar com clareza e objetividade que podemos ser pais amorosos sem perder a autoridade, sem deixar que nossos filhos cresçam sem limites e sem capacidade de compreender e enxergar as necessidades e direitos dos outros. Hoje estaremos abordando uma importante faixa etária da vida humana: a criança de 0 a 6 anos. Dar limites é... - ensinar que os direitos são iguais para todos;

- ensinar que existem OUTRAS pessoas no mundo;
- fazer a criança compreender que seus direitos acabam onde começam os direitos dos outros;
- dizer “sim” sempre que possível e “não” sempre que necessário;
- mostrar que muitas coisas podem ser feitas e outras não podem ser feitas;
- fazer a criança ver o mundo com uma conotação social (con-viver) e não apenas psicológica (o meu desejo e o meu prazer são as únicas coisas que contam);
- ensinar a tolerar pequenas frustrações no presente para que, no futuro, os problemas da vida possam ser superados com equilíbrio e maturidade;
- desenvolver a capacidade de adiar satisfação;
- saber discernir entre o que é uma necessidade dos filhos e o que é apenas um desejo;
- dar o EXEMPLO ! Dar limites não é... - fazer só o que vocês, pai ou mãe, querem ou estão com vontade de fazer;
- ser autoritário (dar ordens sem explicar o porquê e/ou agir de acordo apenas com seu próprio interesse);
- gritar com as crianças para ser atendido;
- deixar de atender às necessidades reais (fome, sede, segurança, afeto) dos filhos porque hoje você está cansado;
- provocar traumas emocionais ou físicos;
- delegar a terceiros a tarefa de educar seus filhos. O que pode acontecer quando não se dá limite ? A criança que não aprende a ter limites para o seu querer, para seus desejos e vontades, que tudo quer e tudo pode, tende a desenvolver um quadro de dificuldades que vai se instalando passo a passo, como segue:
4.1. Etapa Um: Descontrole emocional, histeria, ataques de raiva (mais comum até os 3 anos de idade)
Quando por insegurança, culpa ou medo de serem antiquados ou autoritários, os pais deixam de exercer seu papel essencial de “construtores de limites”, a tendência é que a criança mantenha e aperfeiçoe uma postura hedonista, apresentando dificuldades crescentes de aceitar qualquer tipo de limite aos seus desejos.
A criança que não é orientada pelos pais e é atendida em tudo sempre que chora e esperneia tende a perpetuar esse tipo de conduta. Ela já está aprendendo a alongar seus limites e iniciando seu processo de controlar o mundo através, primeiramente, do grito e, talvez depois, da violência ou agressão.
4.2. Etapa Dois: Dificuldade crescente de aceitação de limites (mais comum entre os 3 e os 5 anos de idade)
Quando começa a frequentar a escola, a criança que não traz uma base sólida de limites tende a não aceitar restrições às suas ações: se quer ir brincar no pátio na hora em que a professora está realizando atividades de pintura, ela ignora o chamado e as recomendações. Caso não consiga seu intento, reage de maneira negativa: chora, grita, agride, chuta, joga brinquedos e/ou objetos. Em seu relato do período escolar passa a elencar aspectos negativos da escola: a sala é ruim, a professora é feia, os colegas são chatos, o colégio não tem graça. Quando os pais percebem a articulação do filho e realizam um esforço conjunto com a professora para contornar a situação, a tendência natural é que as coisas comecem a se tranquilizar. Caso a família seja super-protetora, a migração escolar é o caminho mais provável.
4.3. Etapa Três: Distúrbios de conduta, desrespeito aos pais/colegas/autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, excitabilidade, baixo rendimento (pode iniciar precocemente a partir dos 4 anos de idade)
A criança foi crescendo, crescendo e ficando a cada dia mais distanciada da realidade. Pai, mãe, avós, vizinhos, amigos – todos só existem para satisfazer as suas necessidades. Assim ela passa a interromper aos gritos quem estiver falando, exige que se comprem todas as roupas e brinquedos que deseja, come o que quer na hora em que bem entende, dorme na cama da mamãe quase todas as noites (e às vezes exige que o pai não permaneça no quarto), toma banho apenas na hora em que decide fazê-lo, vai à escola ou estuda apenas quando estiver com vontade... No início isso foi maravilhoso, pois a família achava que estava lhe dando muito amor e que ela apenas tinha uma “personalidade forte”. Segundo a lógica infantil (e a de muitos adultos também), fazer só o que se quer é muito mais agradável do que fazer o que se deve.

Ao final de seis ou sete anos, porém, os pais percebem que criaram uma pessoinha com uma visão distorcida do mundo, que acaba se tornando desagradável e que passa a ser evitada na distribuição de convites para festas, almoços e aniversários de amigos, vizinhos e até mesmo de alguns parentes – a maioria das pessoas não gosta de conviver com alguém tão “cheio de vontades”. Então esse papai e essa mamãe se entreolham assustados, pois aquela criança a princípio “tão lindinha”, tão “cheia de personalidade”, acabou se transformando num reizinho, eternamente insatisfeito, mandão e pronto para brigar o tempo todo... um verdadeiro tirano.
E o que é pior: não têm mais autoridade sobre ele, não conseguem convencê-lo a falar educadamente com as pessoas, a respeitar a fila, a tolerar pequenos desgostos, a fazer seus deveres escolares... Exagero ? De forma alguma. A criança que não aprende a ter limite cresce com uma deformação na percepção do outro. Só ela importa, o seu querer, o seu bem estar, o seu prazer. O egocentrismo infantil, que deveria diminuir com a idade, torna-se exacerbado, só cresce.

Com frequência essas crianças são confundidas com as que têm a síndrome da hiperatividade verdadeira, porque iniciam um processo que pode assemelhar-se a esse distúrbio neurológico: irritabilidade, instabilidade emocional, redução da capacidade de concentração e atenção, incapacidade de tolerar frustrações e contrariedades, desinteresse pelos estudos, falta de persistência, desrespeito pelo outro (colegas, irmãos, familiares e autoridades em geral).
4.4. Etapa Quatro: Agressões físicas se contrariado, descontrole, problemas de conduta, problemas psiquiátricos nos casos em que há predisposição (comum na adolescência, mas pode iniciar precocemente a partir dos 8-9 anos)

Há uma relação direta entre a falta de limites e a forma de ver o mundo. Quando família/escola não agem de maneira corretiva e eficiente nas etapas anteriores, a distorção passa a ser a única realidade possível para o futuro adolescente. Seguindo esse raciocínio, veremos os números crescentes de utilização de álcool, drogas, substâncias psicoativas, marginalização e criminalidade.
Eles crescem e se desenvolvem através da seguinte filosofia de vida: “o mundo existe para o meu prazer; todos devem fazer o que eu quero e gosto; quem não faz o que eu quero não gosta de mim; quem não gosta de mim é meu inimigo; quem é meu inimigo não é digno de viver.” Os exemplos estão aí, diariamente, circulando na mídia: jovens que se armam e saem matando pais, amigos, colegas de escola; o caso do atirador do cinema do RJ; o caso do índio pataxó queimado em Brasília; o caso da mãe que era ameaçada e agredida fisicamente pelo filho em troca de dinheiro...

Finalizando: aquilo que nos primeiros meses e anos de vida pode parecer apenas “engraçadinho”, “interessante”, “sinal de amor”, “personalidade forte”, acaba levando nossos filhos exatamente ao pólo oposto do que desejamos. Tentando evitar traumas psicológicos os pais estarão propiciando o surgimento de sérios problemas num futuro não tão distante.
5. Como disciplinar sem bater ? - Premiando ou recompensando o bom comportamento: Sempre que a criança tiver atitudes corretas, devemos ressaltar esse fato. Normalmente só nos lembramos de ressaltar as coisas negativas e, por essa razão, as crianças ficam com a sensação de que não vale a pena fazer tudo certinho – elas não recebem qualquer estímulo ou olhar aprovador. A melhor forma de alcançar um objetivo educacional é elogiando, incentivando e ressaltando tudo de bom que a criança faz.
- Entendendo que premiar não é obrigatoriamente “dar coisas materiais”: Embora pareça impossível e estranho em época de grande consumismo, um carinho, um elogio sincero ou o reconhecimento do esforço valem muito mais do que presentes, dinheiro, viagens. Ao longo dos anos, se acostumarmos nossos filhos a serem “comprados”, eles aprenderão a agir dessa forma conosco também.

- Fazendo com que a criança assuma as consequências de seus atos (positivos ou negativos): Com a mesma naturalidade e carinho com que elogiamos e premiamos nossos filhos, devemos conversar e agir quando eles erram, explicando, apontando e fazendo com que reflitam sobre as atitudes incorretas e egocêntricas, com o cuidado de nunca relacionar uma atitude a características pessoais. Em outras palavras: ao criticarmos alguma coisa que a criança fez de forma indevida, devemos fazê-lo com relação ao fato específico e não como se fosse algo inerente ao indivíduo ou a sua personalidade.
EX: “Fulano, não é correto pegar o que não é seu sem antes pedir autorização ao dono.” JAMAIS: “Fulano, você é desonesto, egoísta e sempre quer tudo pra você.” Apresente o fato como algo a ser analisado, repensado e refeito, sempre dentro das possibilidades da idade e da compreensão da criança. Se você conversou, explicou a regra e mesmo assim seu filho tomou uma atitude indesejada, não flexibilize: ele deverá arcar com as consequências de sua decisão.
- Tendo sempre em mente que coerência, segurança, justiça e igualdade são imprescindíveis: Toda consequência ou responsabilização deve ser ADEQUADA, isto é, para pequenos deslizes, pequenas consequências; para atos mais graves, consequências mais sérias. Nunca exagere. Trate seus filhos com igualdade – não tenha dois pesos e duas medidas.
Necessidades X Desejos

Em se tratando de dar limites, é fundamental distinguir o que são necessidades e o que são desejos de nossas crianças.

6.1. Necessidade: é algo inevitável, algo que, se não atendido, pode levar o indivíduo a ter problemas sérios no seu desenvolvimento, seja físico, intelectual ou emocional.
6.2. Desejo: é a vontade de possuir algo, de realizar algo, que pode ou não ser importante para o desenvolvimento. Está mais vinculado ao prazer. Segundo Abraham Maslow, o homem tem uma série de necessidades normais que ele agrupou de forma hierarquizada em forma de uma pirâmide, conhecida como a “Pirâmide das Necessidades de Maslow” (Veja figura no final da postagem)

Isso significa que o ser humano só se preocupa em atender a uma necessidade de nível mais elevado se as de nível mais baixo estiverem atendidas. Ou seja: quem está com muita fome (necessidade fisiológica) não fica muito interessado em proteger-se (necessidade de segurança), podendo arriscar-se para obter alimento.

Todo pai tem o dever de atender às necessidades de seu filho, sejam elas de que nível for. Quanto aos desejos, porém, é necessário analisá-los para depois decidir.
6.3. Analisando Desejos Antes de Optar por Atendê-los: Primeiramente pense se esses desejos são aceitáveis do ponto de vista individual e social.

Em segundo lugar, veja quais desejos você quer atender (ou porque não tem condições de fazê-lo ou porque não considera adequado à faixa etária, horário, educação do seu filho...).

Em terceiro lugar, analise se estes desejos extrapolam os limites do desenvolvimento normal e saudável de uma criança. Um exemplo passo-a-passo: seu filho diz que está com fome e quer comer chocolate no horário do almoço. Comer é uma necessidade, alimentar-se é uma necessidade fisiológica básica.

Do ponto de vista individual/social, não haveria problema algum se a criança substituísse seu almoço por uma barra de chocolate.
Do ponto de vista do querer paterno: talvez a família tenha condições e não considere inadequada a solicitação da criança. Mas numa análise final, devemos nos fazer a seguinte pergunta: é saudável e normal uma criança substituir uma refeição tão importante como o almoço por uma barra de chocolates ? Concordando com esta atitude, não estaríamos atendendo a um desejo e não a uma real necessidade do pequeno ?

Claro que alguns desejos, mesmo não sendo necessidades, poderão ser atendidos. Mas seremos nós, pais – adultos – provedores, que analisaremos e decidiremos a questão. Esse é o princípio básico do “limite infantil”.
Entre 1 e 4 anos

7.1. Necessidades: Desde o momento em que começa a se relacionar, primeiro com os pais, depois com outros membros da família e, em seguida, com a comunidade, a criança até os 4 anos precisa muito, dentre outras coisas:

- sentir-se desejada, amada e necessária;

- receber cuidados, proteção e segurança;

- ser apreciada, aceita e fazer parte do grupo;
- ter a oportunidade de explorar, brincar e aprender a cuidar de si mesma (vestir-se e usar o banheiro, aos 2-3 anos);

- repousar durante o dia;
- dormir cerca de 12 horas por noite.
7.2. Tarefas dos Pais: Para atender às necessidades citadas, os pais precisam colaborar com algumas atitudes sistemáticas, que em muito ajudarão as crianças a crescerem, se tornarem independentes e equilibradas emocionalmente.

- Faça com que as coisas permaneçam positivas – diga “não” e em seguida o que a criança deve fazer. EX: “Não, querida. Você não pode mexer no computador do papai. Então vamos escolher outra coisa para brincar.”

- Use prêmios antes. Não se esqueça de premiar o bom comportamento (sem exageros, é claro). Tenha sempre um sorriso ou palavra agradável quando seu filhinho colaborar na arrumação dos brinquedos ou ajudar você a guardar as compras. O importante é que o prêmio/aprovação ocorra com frequência. Assim, quando houver uma censura ou reprovação, isso não afetará a auto-estima da criança.

- Aplique as consequências imediatamente. Deixar para depois não funciona, porque a criança já esqueceu porque está sendo castigada e aí não aprenderá a discernir o bom do mau comportamento.

- Ignore um comportamento que não esteja prejudicando ninguém, quando a criança é pequena. Temos de saber diferenciar as lutas que valem a pena e as que não valem a pena ser iniciadas. Toda pessoa precisa externar seus sentimentos em alguns momentos. Portanto, se seu filho está brincando no quarto ou em outro local onde não há perigo de machucar ninguém ou quebrar nada, simplesmente deixe. EX: Estava montando uma torre com peças de plástico, a torre desabou, ele se irritou e jogou as peças longe.
- Conforte a criança nas necessidades. Em geral, quando está triste, em conflito, ou chateada por alguma coisa, a criança busca o apoio dos pais. Conforte-a com palavras que expressem sua compreensão, dê-lhe carinho. Isso reforçará a segurança de que tanto necessita.
7.3. Como lidar com problemas de comportamento:

7.3.1. Acessos de cólera ou mau humor:
- são frequentes nessa idade, pois a criança não está totalmente socializada.

- ignorar é a melhor maneira de eliminar.
- quanto menos você falar e tentar convencê-la, melhor e mais rápido o efeito.

- não espere que se acalme escutando a voz da razão e a ponderação - ela está com muita raiva e não consegue dominá-la.

- não tenha você também um acesso de cólera por causa do acesso de cólera da criança. Você é um adulto. Não aja como se tivesse a mesma idade de seu filho.

- dê-lhe direito ao “piti”, mas explique que não vai assistir. Conduza-a a um local onde não possa machucar-se (isso é fundamental para a segurança da criança), diga-lhe com calma e firmemente que essa não é a forma de conseguir o que deseja e que você vai esperar ela se acalmar para depois conversarem. A seguir, retire-se.
7.3.2. Agressões físicas e arremesso de objetos:

- se a criança tentar agredi-lo fisicamente, chutar, jogar coisas, simplesmente impeça-a, segurando com firmeza mas sem machucá-la.

- não fique junto gritando, suplicando, ameaçando, muito menos agredindo ou apanhando. Simplesmente não assista. Sem platéia não há espetáculo.

- depois que a criança se acalmar, converse seriamente sobre o que ela sentiu, mostre que existem outras formas de demonstrar sentimentos, mas sem longos sermões. Seja breve e vá direto ao ponto. EX: “Que pena, mamãe e papai ficaram muito tristes porque você chutou seu irmão. Agora sim você está lindo e inteligente como sempre foi. Fazer o que você fez não vai dar certo conosco. O que não pode, não pode.”
7.3.3. Crises em lugares públicos:
A melhor maneira de lidar essas situações é evitar que elas aconteçam. Para isso, é fundamental conhecer a criança e não exigir mais do que ela é capaz de dar de acordo com a sua idade.
- evite saídas ou compras na hora em que a criança está cansada ou com sono. É normal que a criança dessa idade tenha sono à noite e após o almoço. É uma necessidade dessa fase. Respeitá-la evitará maiores problemas.

- permaneça pouco tempo em locais que sejam de baixo interesse para a criança (supermercado, exposições, lojas, banco...). A não ser que seja totalmente impossível deixá-la em casa, leve-a. Mas lembre-se de que ela não estará nada motivada para esta atividade e não espere ter um anjinho de candura ao seu lado. É comum alguns pais entupirem a criança de brinquedos, doces e agrados para prolongar a estada dela em tais locais. Depois não conseguem entender como ela se tornou tão birrenta ou tão interesseira...
- se não puder evitar a ida a um lugar aborrecido, leve brinquedos que a distraiam. Mas por favor, seja rápido.

- jamais ignore um mau comportamento que prejudique ou magoe outras pessoas. Explique isso com clareza. Da mesma forma que se premia sempre o bom comportamento, mesmo que apenas com palavras carinhosas ou de incentivo, a atitude inadequada deve ser coibida de forma clara, objetiva, com segurança e de imediato. Os direitos dos outros devem ficar tão claros quando os seus próprios direitos.
Entre 5 e 7 anos

8.1. Necessidades:


- conversar sobre o que pensa e sente;
- se comunicar com os pais e ser ouvida;
- compreender normas e valores;

- ter aprovação dos pais e de outras pessoas com as quais convive;
- carinho;
- dormir cerca de 11 horas por noite;
- saber diferenças entre os sexos;

- muita atividade física;
- independência cada vez maior;
- iniciativa e imaginação;
- conhecer o mundo que a cerca.
8.2. Tarefas dos Pais:
Se queremos que nossos filhos nos respeitem e respeitem o outro, temos que começar, nós próprios, respeitando-os, porque o exemplo continua sendo a melhor maneira de educar. Se nós formos desregrados, sem limites e indisciplinados, como poderemos querer que nossos filhos sejam diferentes ? Portanto:

- tenha normas coerentes de disciplina. Regras justas e coerentes com a forma de viver de todos os componentes da família têm muito mais chance de serem cumpridas e não despertam revoltas. Porém, não transforme sua casa num quartel.

- enuncie as normas especificamente e com clareza. Também é importante explicar o porquê de determinadas regras – nessa idade a criança já entende e tem um senso de justiça bastante desenvolvido.

- defina as normas antes que os problemas surjam. A melhor maneira de não ouvir reclamações é fixar as regras do jogo antes do jogo começar. EX: se vocês vão fazer uma visita a algum amiguinho, explique antes de sair, numa conversa franca, o que poderá ser feito e o que não poderá ser feito. Quando seu filho compreende as regras, sente-se bem em cumpri-las, especialmente nesta idade.

- às vezes, mesmo ciente das regras, as crianças teimam e insistem em mudar o que foi estabelecido. Nesse caso, seja firme. Se você flexibilizar sempre, será cada vez mais difícil estabelecer limites para os pequenos e manter a sua autoridade.

- não seja exigente demais. Nessa fase é comum as crianças começarem a querer fazer as coisas por si mesmas – colocar a roupa, tomar banho, cortar o bife. Aplauda sempre sua persistência, em vez de rir ou caçoar de seus esforços, por vezes, desajeitados. Só aprende quem faz. Incentive seu filho a ser independente.
8.3. Técnicas a serem usadas

- utilize o sistema de prêmios e consequências, procurando premiar sempre a boa conduta;
- premie usando atividades prazerosas preferencialmente a coisas materiais;- suspenda prêmios quando surgir má conduta;

- faça com que a criança se responsabilize mais por seus atos;
- estimule atividades autônomas que já podem fazer sozinhos (escovar os dentes, calçar-se, dar laços nos tênis...);

- encarregue-o de pequenas tarefas que ficarão sob sua responsabilidade (dar comida/água para o cachorro, pegar a correspondência, apagar as luzes dos cômodos que não estão sendo utilizados na casa...);
- deixe que participe da escolha de consequências para a má conduta (evidentemente isso só funciona se for trabalhado antes do problema ocorrer e com a participação ativa dos pais). Dê-lhe a oportunidade de treinar o exercício dos deveres e dos direitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001.
GREEN, Chistopher. Domando sua ferinha. Curitiba: Fundamento, 2003.
SANTIAGO, Onete Ramos. Mãe, pai, filhos: que desafios ! Florianópolis: Sophos, 2003.
TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. São Paulo: Integrare, 2006. ____________Ensinar Aprendendo. São Paulo: Gente, 1998.







quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Afinal, o que é cultura?

Gosto muito de passear pelo mundo virtual procurando por textos que possam responder meus questionamentos infinitos. E para minha felicidade sempre encontro o que procuro através de pessoas que muitas vezes não imaginam sequer minha existência, mas que se tornam grandes inspiradores para minhas "viagens". Hoje, encontrei e quero compartilhar o texto abaixo, escrito por Leandro Konder, filósofo e escritor.


O que são esses conjuntos de palavras e imagens, de realidades criadas pelos conhecimentos, pela imaginação e, sobretudo, pela ação dos homens?Como as sociedades estão profundamente divididas é fácil entender que a Cultura delas só podia mesmo ser contraditória. Por isso, temos, na verdade, diferentes culturas numa mesma sociedade.


A Cultura dos “de cima“ se orgulha de proporcionar aos seus admiradores obras que os “de baixo” nem sempre entendem. A erudição alcançada por muitos intelectuais e artistas, cientistas e políticos tradicionais merece respeito. Porém paga um preço alto por fixar-se freqüentemente em si mesma, limitando-se aos horizontes elitistas da classe dominante.


Já se comprovou historicamente que, nos poucos momentos em que se abriu para o aproveitamento cultural das criações das camadas populares, surgiram obras de arte extraordinariamente significativas, como, por exemplo, na França e na Itália do Renascimento. Os leitores do padre bilontra François Rabelais nunca hão de esquecer as histórias da família de gigantes que ele inventou.


No Brasil, as coisas caminham devagar. Quando as mudanças se tornam imperativamente necessárias, elas vão se fazendo, mas tudo em ritmo lento. Entre os intelectuais ainda se encontram manifestações de desinteresse e desprezo pelos pontos fortes da cultura popular. Mesmo democratas se descuidam e deixam transparecer preconceitos em relação à Cultura dos “outros”.


Os “de cima” deveriam levar em conta a dificuldade que os “de baixo” têm para entendê-los, porém deveriam prestar atenção também na suas próprias dificuldades para entender o que se passa na esfera deles, os “de cima”.


Até certo ponto é bom que os homens acreditem nos valores da cultura particular em que foram criados. É saudável que tenham valores e convicções. O perigo está em exagerarem nas suas crenças e se esquivarem ao diálogo com os outros. Não é raro perceber entre os membros das camadas mais pobres na população certa dificuldade para compreenderem a linguagem dos “ricos”.


Mesmo quando se trata de “ricos progressistas”, os “pobres” têm uma sensação de “estranheza” ao ouví-los criticar o “povo” e fazer sugestões para a ação política das camadas populares.Um conceito filosoficamente essencial, tal como é desenvolvido pelos intelectuais – o conceito de tempo – representa experiências distintas quando aparece na perspectiva de uns ou transparece na perspectiva dos outros.Quando um intelectual de esquerda, subjetivamente disposto a dialogar com o “povo”, fala em tempo histórico, ele freqüentemente manifesta certa impaciência ética que os trabalhadores não têm espaço para cultivar, em suas usuais condições de vida.


Quando os trabalhadores falam em paciência, eles não estão necessariamente capitulando diante da resignação. O tempo que lhes é imposto exige deles uma capacidade de suportar a pressão, reagindo da forma que lhes parece possível.


O poeta alemão Bertold Brecht compreendeu esse fenômeno com clareza. É o que se nota numa das pequenas estórias de seu personagem o senhor Keuner. O senhor Keuner estava tranqüilamente em sua casa, quando ela foi invadida por um gigante fardado que o interpelou: “Queres servir-me?”.


O senhor Keuner, então, foi para a cozinha e passou a preparar comida para o invasor. Durante semanas, meses e até anos, preparou acepipes variados, sobremesas deliciosas e excelentes bebidas para o gigante. Um dia, este morreu. O senhor Keuner arrastou o cadáver até o fundo do jardim, jogou-o num buraco e respondeu: “Não!”.


A concepção do tempo na vida do senhor Keuner se revelou mais forte do que a concepção do tempo adotada pela cultura do explorador truculento.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Motivação

Motivação (do Latim movere, mover) designa em psicologia, em etologia e em outras ciências humanas a condição do organismo que influencia a direção (orientação para um objetivo) do comportamento. Em outras palavras é o impulso interno que leva à ação. Assim a principal questão da psicologia da motivação é "por que o indivíduo se comporta da maneira como ele o faz?" (Rudolph, 2003). "O estudo da motivação comporta a busca de princípios (gerais) que nos auxiliem a compreender, por que seres humanos e animais em determinadas situações específicas escolhem, iniciam e mantém determinadas ações" (Mook, 1996, citado segundo Rudolph, 2003).

É uma força interior que se modifica a cada momento durante toda a vida, onde direciona e intensifica os objetivos de um indivíduo. Dessa forma, quando dizemos que a motivação é algo interior, ou seja, que está dentro de cada particular erramos em dizer que alguém nos motiva ou desmotiva, pois ninguém é capaz de fazê-lo.

Porém podemos concordar que o interior é diariamente influenciado pelo meio externo, isso inclui pessoas e coisas. Podemos nos sentir influenciados pelo entusiasmo de alguém que nos motiva a fazer algo. Já em determinadas situações e dependendo do temperamento da pessoa, ou mesmo da sua personalidade geral, pode-se oferecer certa independência ao meio externo. Ou seja, sua força interior de motivação é alta e "não precisa" de ajuda ou baixa e "precisa de apoio".
O nível de motivação é influenciado por diversos fatores como a personalidade, percepções individuais do meio ambiente, interações humanas e emoções.

Abordagens

O ser humano é um ser de necessidade. Nesta direção o comportamento humano é pautado pela satisfação dessas necessidades durante as fases do seu desenvolvimento. As necessidades humanas não são naturais, precisam ser criadas, inventadas pelo homem. Considerando que nenhum comportamento humano é carente de justificativa, é tarefa dos estudiosos da Psicologia da motivação estudar os motivos, os instintos intrínsecos ao homem que o levam a agir, a se comportar de determinada maneira e não de outra. A teoria da motivação visa mapear os motivos humanos, tentando explicitar o comportamento observado numa forma de linguagem inteligível no campo real do homem, através da escrita. Como o ser humano possui tanto a capacidade de construir como a de destruir, é muito importante para ele entender um pouco os instintos que o levam a destruir, impedindo a continuidade do processo de construção de sua vida. Não há como conhecer todas as explicações possíveis, pois o homem pode sempre inventar uma nova explicação. No entanto, conhecendo-se cada vez mais elementos que explicam o comportamento humano, pode-se ter uma maior amplitude de possibilidades que ajudem o homem a conciliar seus desejos internos com os limites que o meio externo lhe impõe, conciliando seus interesses sem desrespeitar os interesses dos demais seres humanos. Assim, o ser humano pode ter uma vida psíquica mais saudável, à medida que toma consciência de seus instintos inconscientes. Existem teorias diversas de explicação do comportamento. Sendo a motivação um objeto de estudo essencial nessas teorias, é natural que cada uma lhe tenha dedicado especial atenção. Para os comportamentalistas, a motivação é explicada com conceitos como recompensa e incentivo, sendo a recompensa um objeto ou evento atrativo fornecido como conseqüência de um comportamento particular, e o incentivo um objeto ou evento que encoraja ou desencoraja comportamento. Então quando a um aluno é prometida uma nota elevada, isso é um incentivo, sendo que quando a nota sai isso é uma recompensa. A motivação para os comportamentos é vista como extrínseca. Existe outra abordagem que foi desenvolvida como uma reação ao comportamentalismo e à psicanálise freudiana, a humanística. Estas teorias não explicariam adequadamente as motivações dos comportamentos. Os humanistas, como Carl Rogers e Abraham Maslow enfatizam então fontes intrínsecas de motivação, como as necessidades de “auto-realização”, a “tendência realizadora” inata ou a “necessidade de autodeterminação”. Em comum, estas diferentes explicações têm a crença de que as pessoas são continuamente motivadas pela necessidade inata de realizar os seus potenciais. Outra abordagem em que a motivação intrínseca terá mais importância é a cognitivista. Os cognitivistas acham que o comportamento é determinado pelo nosso pensamento, e não apenas pelas recompensas que tenhamos eventualmente recebido. As pessoas reagem às suas próprias interpretações dos eventos externos, em vez de reagirem aos eventos em si. Assim são fatores internos que determinam o nosso comportamento.

Teoria de Abraham Maslow

Abraham Maslow identificou que os seres humanos são motivados por necessidades específicas, mas que nem sempre são iguais, variando muito de acordo com o momento vivido pelo indivíduo.Maslow organizou estas necessidades em forma de pirâmide com o intuito de sugerir que a nossa motivação para satisfazer as necessidades do topo (necessidades de ser) só surgirá, quando as da base forem satisfeitas (necessidades de carência), altura em que a motivação para a satisfação destas descerá. Tal não implica que mesmo quando satisfeitas as necessidades do topo, a nossa motivação cesse. Pelo contrário, ela aumenta na busca de maior satisfação. A sua teoria foi criticada porque a realidade mostra exemplos de pessoas que não seguem tão rigidamente a sua hierarquia. No entanto, a sua teoria aponta que em geral um indivíduo deverá satisfazer uma necessidade mais urgente para passar para a próxima necessidade. Por exemplo, um homem que não tem onde morar (Necessidade 1) não terá interesse em ser considerado o funcionário do mês de sua empresa (necessidade 4) e também não estará preocupado se foi descoberta a cura pra uma doença rara (necessidade 5). Assim que ele conseguir um teto para morar, ele conseguirá ver a próxima necessidade de forma relevante, pois já não terá mais aquela preocupação anterior, liberando assim esse gás que antes estava ocupado.

Tipos de Necessidades:

1. Necessidades Fisiológicas; (a mais urgente) Necessidade de alimentação (fome e sede), de sono e repouso, de abrigo (frio ou calor) e o desejo sexual. Estas necessidades são fundamentais para a sobrevivência do indivíduo e para a propagação da espécie.

2. Necessidades de Segurança; Uma vez satisfeitas às necessidades fisiológicas a pessoa procura satisfazer a necessidade de se sentir protegida e livre de perigo.

3. Necessidades Sociais (amor e relacionamento); Necessidades de associação, participação, de amizade, amor, aceitação por parte dos companheiros.

4. Necessidades de Estima e; Necessidades relacionadas como a forma como o indivíduo se avaliam - sentimentos de auto-apreciação social e de respeito, de status, de prestígio e de consideração.

5. Necessidades de Auto-realização. (a menos urgente) Necessidades relacionadas à competência e realização do potencial de cada indivíduo, de desenvolvimento, maximização do desempenho Nem todas as pessoas chegam ao topo da pirâmide.