quinta-feira, 2 de abril de 2009

Introdução à Teoria de Winnicott

Winnicott foi um dos primeiros autores a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança. Ele considerou que a mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da criança. Santos (2008) diz que na teoria psicanalítica de Winnicott o ser humano não é apresentado como um objeto da natureza, mas sim como uma pessoa que para existir precisa do cuidado e atenção de um outro ser humano.

Para Winnicott o objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança. A mãe participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda a formar sua mente, fazendo com que este processo seja bem feito. “Ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de “energia vital”, que o faz progredir e amadurecer.” (Bleichmar e Bleichmar, 1992, pág. 246). Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do fazer-criativo. E a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo.

Gurfinkel (1999) destaca que para a teoria psicanalítica de Winnicott o que está em questão não é a vida erótica do sujeito, mas a conquista de um lugar para viver, ou a base do self no corpo. A localização do self no corpo não é uma experiência dada desde sempre, mas sim o fruto de um desenvolvimento sadio.

Ao se estudar o primeiro vínculo emocional com a mãe, em termos de experiência sensoriais, afetivas e de constituição do psiquismo, passa-se de uma postura edípica a uma bipessoal, do falo ao seio, do triangulo à relação com a mãe.” (Bleichmar e Bleichmar, 1992, pág. 243)

Winnicott acreditava no potencial criativo humano, a noção de um ser humano que já traz em si as potencialidades do viver. Santos (2008) diz que o que está em jogo na natureza humana e o que a constitui é o seu acontecimento como ser humano, isto é, a sua continuidade de ser como pessoa. Winnicott recusa decididamente o naturalismo e o determinismo, isto é, recusa a objetificação do ser humano. Ele não concebe o ser humano como um mero fato, um efeito de causas, uma coisa em conexão causal com outras coisas da natureza.

Ele localiza o início dos problemas psicológicos no vínculo entre recém-nascido e mãe. A base da estabilidade mental depende das experiências iniciais com a mãe e, principalmente, de seu estado emocional. Na abordagem winnicottiana o analista deve oferecer ao paciente o que não teve, criando processos que nunca existiram, capacidades e funções psicológicas, dotando seu paciente de estruturas ausentes.

Winnicott acredita que há três espaços psíquicos. O interno, o externo e o transicional. O espaço transicional é uma zona intermediária, que vai do narcisismo primário ao julgamento de realidade. No início há objetos que não são internos nem externos, só depois virá a delimitação entre ambos. A mãe deve juntar os pedacinhos, permitindo que a criança se sinta dentro dela. A mãe, ao nomear o filho unifica-o.

O ambiente deve se adaptar adequadamente à criança, para formar seu verdadeiro self. Se a mãe se adequa de uma forma suficientemente boa, não interfere no desenvolvimento da criança. Não é a mãe que molda completamente a criança – esta tem sua autonomia, com sua capacidades inatas de desenvolvimento – a mãe assegura o ponto de referência para que o processo continue. Winnicott crê que ao sair do narcisismo primário, o destino do sujeito depende do fracasso ou do êxito do ambiente.

Não considera os fatores internos tão determinantes quanto os externos. Enquanto para Melanie Klein o ambiente era um fator importante, mas não concentrava nele sua atenção, para Winnicott o ambiente era um elemento fundamental, a ponto de considerar as falhas ambientais como a etiologia principal dos quadros psicopatológicos.

A mãe deve funcionar como “ego-auxiliar” da criança. Quando a sustentação exercida pela mãe for bem sucedida, a criança a vive como uma “continuidade existencial”; no entanto, quando falha, o bebê terá uma experiência subjetiva de ameaça, que obstaculiza o desenvolvimento normal. A falta de holding adequado provoca uma alteração no desenvolvimento, cria-se uma “casca” (o falso self) em extensão da qual o individuo cresce, enquanto o “núcleo” (o verdadeiro self) permanece oculto e sem poder se desenvolver. O falso self surge pela incapacidade materna de interpretar as necessidades da criança.

O desenvolvimento do falso self às custas do verdadeiro self, se relaciona a uma amplitude na escala de psicopatologia que irá desde sensações subjetivas de vazio, futilidade e irrealidade até tendências anti-sociais, psicopatia, caracteropatias e psicoses.

Algumas de suas contribuições mais importantes de Winnicott são suas idéias sobre o objeto transicional, a diferença entre self verdadeiro e falso, a noção de sustentação ou holding e as muitas aberrações entre o desenvolvimento emocional infantil.

Fonte: Psicologado.com

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